Um novo estudo revela uma conexão preocupante: o hábito de passar longos períodos sentado pode ser mais prejudicial para a saúde do cérebro do que se imaginava. A pesquisa, publicada recentemente no periódico Alzheimer’s & Dementia, descobriu que idosos com um estilo de vida mais sedentário não apenas apresentaram uma pior função cognitiva, mas também mostraram sinais de encolhimento em áreas do cérebro diretamente ligadas ao risco da doença de Alzheimer.
O mais surpreendente é que essa conexão entre o comportamento sedentário e os sinais do Alzheimer se manteve firme, independentemente do nível de exercício físico praticado pelos participantes. Isso sugere que mesmo quem vai à academia pode estar em risco se passar o resto do dia inativo.
A doença de Alzheimer, uma condição neurodegenerativa progressiva que afeta a memória e a cognição, já impacta milhões de pessoas ao redor do mundo, e a previsão é que esse número continue a crescer nas próximas décadas.
"Este estudo é uma contribuição importante para o crescente corpo de evidências que mostram como nos movemos — ou não nos movemos — ao longo do dia pode afetar significativamente a saúde do cérebro", afirma Prabha Siddarth, Ph.D., pesquisadora de estatística no Instituto Semel de Neurociência e Comportamento Humano da UCLA. "O próprio comportamento sedentário pode ser um fator de risco independente para a doença de Alzheimer."
Investigando a ligação entre o sedentarismo e o cérebro
Embora muitas pesquisas já tenham demonstrado que mais exercício diminui o risco de demência, a autora do estudo, Marissa Gogniat, Ph.D., queria entender como os níveis de atividade ao longo de um dia inteiro poderiam impactar o risco de Alzheimer.
Para isso, Gogniat, professora assistente de neurologia na Universidade de Pittsburgh, analisou um grupo de 404 adultos mais velhos. Os participantes usaram um relógio inteligente que registrou seus níveis de atividade por uma semana e passaram por várias avaliações neuropsicológicas e ressonâncias magnéticas cerebrais ao longo de um período de sete anos. Em média, eles passavam cerca de 13 horas por dia sentados ou deitados.
Os resultados mostraram que, independentemente do nível de exercício, as pessoas que passavam mais tempo inativas tiveram um desempenho pior em testes de memória e em outras avaliações cognitivas. Além disso, seus exames de imagem revelaram um declínio maior no volume de certas áreas do cérebro e uma assinatura de neuroimagem associada a um maior risco de declínio cognitivo no futuro. A associação se mostrou ainda mais forte para aqueles com um fator de risco genético para a doença, o alelo APOE-ε4.
Segundo Siddarth, esta pesquisa "preenche uma lacuna crítica" em nossa compreensão sobre como o movimento afeta o risco de declínio cognitivo e reforça a ideia de que o estilo de vida pode impactar diretamente o funcionamento do cérebro. No entanto, o estudo é um ponto de partida. A própria pesquisadora observa que o grupo de participantes era "altamente instruído e já relativamente ativo", o que não reflete a população em geral, especialmente as comunidades com maior risco para a doença de Alzheimer.
Por que ficar sentado pode afetar tanto o cérebro?
A "pergunta de um milhão de dólares", segundo Gogniat, é por que exatamente o sedentarismo poderia aumentar as chances de alguém desenvolver Alzheimer. Por enquanto, essa questão ainda não tem uma resposta definitiva.
No entanto, existem "várias vias biologicamente plausíveis" que podem explicar o que está acontecendo. A saúde do cérebro está intimamente ligada à saúde vascular e metabólica, e longos períodos de inatividade podem ter efeitos cascata nesses sistemas. Ficar muito tempo parado pode, por exemplo, aumentar a inflamação no corpo, reduzir o fluxo sanguíneo para o cérebro e prejudicar o metabolismo da glicose. Outras consequências possíveis incluem a redução da plasticidade sináptica – a capacidade do cérebro de se adaptar – e alterações na sensibilidade à insulina, fatores que "podem contribuir para a neurodegeneração", explica Siddarth.
E o exercício físico não deveria anular esse risco?
Diante dos conhecidos benefícios cognitivos do exercício, é notável que mais atividade física não tenha parecido fazer diferença no risco de Alzheimer dos participantes. Isso não significa que se exercitar não valha a pena. Siddarth ressalta que o exercício continua sendo um "poderoso modulador da saúde cerebral".
"A nuance aqui é importante", diz ela. "Estar ativo por 30 minutos por dia não anula necessariamente os efeitos de ficar sedentário nas outras 15 ou 16 horas em que estamos acordados." Em outras palavras, exercício e sedentarismo não são dois extremos de um mesmo espectro. É totalmente possível se exercitar diariamente e, ainda assim, levar uma vida majoritariamente sedentária.
Como incorporar mais movimento no seu dia a dia
A mensagem final deste e de outros estudos semelhantes é que o movimento é uma ferramenta incrivelmente importante para proteger a saúde cognitiva, especialmente para pessoas com maior risco genético. Isso não significa que você precise correr uma maratona. A chave, explica Gogniat, é encontrar maneiras de quebrar os longos períodos que passamos sentados.
Para isso, você pode tentar colocar um alarme para se levantar e se alongar a cada meia hora, ou caminhar enquanto atende a uma ligação. Outras ideias simples incluem estacionar um pouco mais longe da entrada dos lugares ou optar pelas escadas em vez do elevador. Para quem tem problemas de mobilidade, até mesmo movimentos feitos na cadeira podem ajudar.
"Cada movimento conta", conclui Siddarth. "A mensagem não é apenas ‘exercite-se mais’, mas sim ‘fique menos tempo sentado’."
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