Um novo estudo descobriu que uma dieta baseada em alimentos ultraprocessados pode impactar negativamente a saúde do cérebro. A pesquisa, publicada na revista científica Neurology, sugere que pessoas que consomem regularmente lanches embalados e bebidas adoçadas têm maior probabilidade de apresentar sinais muito iniciais da doença de Parkinson, uma condição neurodegenerativa caracterizada por problemas de movimento.
A descoberta adiciona evidências crescentes de que alimentos ultraprocessados — que foram significativamente alterados de sua forma original para aumentar a palatabilidade e a vida útil — podem contribuir para o declínio cognitivo, incluindo problemas de memória, atenção e aprendizado. Este estudo, no entanto, é o primeiro a vincular especificamente alimentos ultraprocessados ao desenvolvimento da doença de Parkinson. Em resumo, o que você come hoje pode moldar a saúde do seu cérebro décadas depois.
Um olhar mais aprofundado sobre o estudo
Os pesquisadores avaliaram dados de saúde de 42.843 pessoas, com idade média de 48 anos, que não tinham Parkinson no início do estudo. Ao longo de 26 anos, os participantes passaram por exames médicos regulares e preencheram questionários de saúde. A cada poucos anos, eles completavam diários alimentares.
Os pesquisadores então analisaram quem desenvolveu sinais iniciais de Parkinson. Cerca de um terço das pessoas com Parkinson passa por uma fase prodrômica, ou seja, uma fase que precede o aparecimento completo da doença e desenvolve uma gama de sintomas não motores bem antes dos sintomas motores clássicos, incluindo constipação, depressão, dor corporal, visão de cores prejudicada, sonolência diurna excessiva, problemas com sono e olfato.
Na verdade, a constipação é um dos primeiros sinais prodrômicos e, segundo a pesquisa, pode ocorrer até 20 anos antes dos primeiros sintomas motores. A equipe de pesquisa também calculou a quantidade de doces embalados, lanches, molhos, pastas, bebidas adoçadas artificialmente, produtos de origem animal como cachorros-quentes e outros alimentos ultraprocessados consumidos pelos participantes.
Os resultados: pessoas que consumiam 11 ou mais porções diárias de alimentos ultraprocessados — como uma lata de refrigerante, uma porção de batata frita ou um cachorro-quente — enfrentavam um risco 2,5 vezes maior de apresentar três ou mais sinais de Parkinson precoce em comparação com aqueles que consumiam três alimentos processados por dia. Além disso, quanto mais alimentos processados as pessoas consumiam, maior a probabilidade de desenvolverem quaisquer sinais iniciais (com exceção da constipação). Isso indica que os alimentos que comemos podem ajudar a prevenir os sintomas iniciais de Parkinson antes que um diagnóstico real seja feito.
Os pesquisadores enfatizam que encontraram uma associação entre alimentos processados e Parkinson, não uma relação causal. Além disso, pode haver algumas imprecisões, já que os participantes relataram suas dietas e podem ter subestimado ou superestimado a quantidade de alimentos processados consumidos.
Por que alimentos ultraprocessados podem prejudicar a saúde do cérebro?
No momento, isso é exatamente o que os cientistas estão tentando entender. A resposta, segundo os pesquisadores, é provavelmente complexa e multifatorial. Aditivos como adoçantes artificiais podem aumentar o estresse oxidativo, que é o desequilíbrio entre a produção de radicais livres e a capacidade do corpo em neutralizá-los, sugerem evidências.
Alimentos processados também podem alterar o microbioma intestinal, a comunidade de microrganismos nos intestinos, abrindo caminho para a doença de Parkinson. Há uma forte conexão entre bactérias saudáveis no intestino e a redução da inflamação observada no cérebro. Com o tempo, essa alteração nos microrganismos intestinais pode acelerar mudanças neurodegenerativas, as quais aumentam o risco de condições neurológicas como a doença de Parkinson, além de demência, declínio cognitivo, transtornos de humor e perturbações do sono.
Alimentos ultraprocessados também podem afetar outros sistemas do corpo e contribuir para doenças cardiovasculares, disfunção metabólica e obesidade, mostra a pesquisa.
Alimentando-se bem para a saúde do cérebro
As descobertas sugerem que vale a pena verificar quantos alimentos processados você consome diariamente. Modificar fatores de risco, como uma alimentação não saudável, desde cedo pode retardar o início dos sintomas. Mudar de uma dieta rica em fast-food para alimentos integrais e ricos em nutrientes durante a fase prodrômica pode ser uma estratégia crítica para retardar a progressão da doença.
O estudo não destacou um ingrediente ou aditivo específico para evitar, mas concluiu que muitos tipos diferentes de alimentos ultraprocessados, de condimentos a iogurtes, estavam ligados a um maior risco de Parkinson. Não se trata apenas do que devemos comer, mas do que não devemos comer também.
Você pode começar pequeno, trocando um lanche embalado por uma fruta ou escolhendo água em vez de refrigerante, optando por refeições feitas de ingredientes integrais e minimamente processados. Na dúvida, evite alimentos que vêm em embalagens com uma longa lista de ingredientes. Reduzir esses alimentos é uma maneira simples, mas poderosa, de proteger a saúde do cérebro a longo prazo.
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