Francis Bacon nasceu em 22 de janeiro de 1561, em Londres, Inglaterra, em uma família proeminente. Seu pai, Nicholas Bacon, era guardião do selo real, e sua mãe, Anne Cooke, uma erudita protestante que lhe proporcionou uma educação rigorosa.
Desde jovem, Bacon demonstrou interesse por questões intelectuais, frequentando o Trinity College, Cambridge, entre 1573 e 1575. Lá, entrou em contato com o pensamento aristotélico, que mais tarde criticaria como estéril e dogmático. Em 1576, ingressou no Gray’s Inn para estudar direito, mas sua verdadeira paixão sempre foi a filosofia natural e a reforma do conhecimento humano.
Ascensão e queda política
Sua carreira política foi marcada por ambição e adversidades. Eleito para a Câmara dos Comuns em 1584, Bacon ascendeu a posições de poder, tornando-se procurador-geral em 1613, lorde guardião do selo em 1617 e, finalmente, lorde chanceler em 1618. No entanto, em 1621, foi acusado de corrupção, perdendo seus títulos e sendo brevemente preso. Após o exílio político, dedicou-se à escrita até sua morte em 9 de abril de 1626. A causa de sua morte é frequentemente associada a um experimento com neve para preservar alimentos, que teria lhe causado pneumonia.
Saber é poder
Bacon é celebrado como um pioneiro do empirismo moderno e do método científico. Em obras como Novum Organum (1620), ele argumentou que o conhecimento deveria ser construído por meio da observação cuidadosa, experimentação e indução, rejeitando a lógica dedutiva de Aristóteles. Criticou os "ídolos" — preconceitos que distorcem a percepção humana — e defendeu uma ciência voltada para o domínio prático da natureza. Sua frase "Saber é poder" sintetiza a crença de que o conhecimento científico traria progresso material e moral. Em The Advancement of Learning (1605), ele defendeu a expansão sistemática do saber, enquanto New Atlantis (1627), obra póstuma, descreveu uma utopia governada por cientistas na "Casa de Salomão", prefigurando instituições como a Royal Society.
Apesar de seu racionalismo, Bacon foi profundamente influenciado por tradições herméticas e místicas do Renascimento. O hermetismo, baseado nos textos atribuídos a Hermes Trismegisto, via o universo como um organismo vivo cheio de correspondências secretas. Bacon adaptou essa visão, interpretando a ciência como uma ferramenta para decifrar os "segredos da natureza". Em New Atlantis, a "Casa de Salomão" simboliza uma irmandade de sábios em busca do domínio humano sobre a criação, ecoando ideais herméticos de regeneração espiritual através do conhecimento.
Bacon também se interessou pela alquimia, embora a abordasse de forma distinta da mística tradicional. Em Sylva Sylvarum (1627), explorou transformações materiais inspiradas em conceitos alquímicos, distinguindo entre a "magia supersticiosa" — que rejeitava — e a "magia natural", baseada em leis ocultas da natureza. Essa distinção o aproximou de figuras como Paracelso, que buscavam harmonizar ciência e espiritualidade. Além disso, estudiosos especulam sobre suas conexões com o rosacrucianismo, movimento esotérico do século XVII que pregava uma reforma universal do conhecimento. A visão de Bacon sobre uma fraternidade científica em New Atlantis sugere afinidades com ideais rosacrucianos.
Outra influência relevante foi a cabala cristã, que buscava integrar misticismo judaico ao cristianismo. Bacon via a linguagem como uma ferramenta para decifrar a criação, refletindo a crença cabalística de que o universo era um texto divino. Em The Wisdom of the Ancients (1609), reinterpretou mitos clássicos como alegorias de verdades científicas e espirituais, método comum em tradições herméticas.
O legado de um gênio
Bacon equilibrou-se entre razão e misticismo. Condenou práticas como a astrologia vulgar, mas valorizou intuições que pudessem ser validadas empiricamente. Via a ciência como um meio de glorificar a obra divina, afirmando que "a natureza, para ser comandada, deve ser obedecida". Seu legado é ambíguo: enquanto o Iluminismo o celebrou como ícone da razão, românticos e esoteristas do século XIX resgataram suas conexões com o ocultismo.
Sua morte em 1626 deixou um projeto inacabado de renovação científica, mas suas ideias influenciaram pensadores como Descartes e Newton. Bacon personificou a complexidade da Revolução Científica, onde ciência e magia coexistiam na busca pelo conhecimento. Sua visão de um futuro regido pelo domínio humano sobre a natureza, embora enraizada no empirismo, carregava resquícios de uma tradição mística que via o cosmos como um enigma a ser decifrado. Em suas próprias palavras, o verdadeiro cientista deveria ser como a abelha, que "transforma o material em algo novo", unindo observação e criatividade para revelar os segredos do universo.
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